Desenvolvimento Humano
27 de junho, 2018
PREGO NA TOMADA
Erros, acertos, dores e aprendizagem.
ZZZZZZZZZZZZ…… que choque! O Zéfiro levou um soco e caiu da bancada de sobremesas. Foi no hotel da tia dele. Sorte ou coincidência, se é que há, havia um chefe de cozinha na sala e o pegou nos braços. Estava pálido e sem voz; depois de tamanho susto, que quase o matou. Isto aconteceu, após o horário do almoço, quando iniciaram a limpeza e higienização de toda a área da cozinha e da copa de sobremesas. Estava tudo molhado. O Zéfiro, com seus cinco ou seis aninhos, não tinha a menor noção do que estava fazendo. Era apenas uma experiência nova e divertida, andar descalço, na grande bancada em U molhada, até que enfiou um prego na tomada e veio o choque.
Observação 1 – Nem sempre as experiências são prazerosas, mas houve um aprendizado, que ele trouxe e aprimorou até os dias de hoje. Ter cautela e não somente ímpeto para executar qualquer coisa. Não é se frear frente às possibilidades, mas analisar as consequências antes de decidir e fazer, qualquer coisa, responsabilizando-se por seus atos.
Segue a vida, e já no ginásio, hoje, fundamental II, Zéfiro era um aluno assíduo, que respeitava os professores, chegava no horário e estudava muito, o que era padrão para a época. Ele estudava no período da manhã e num determinado dia, muito frio, ele saiu de sua casa, encontrou alguns colegas e foram conversando. Eles foram caminhando devagar, até chegar na esquina, que dava para ver o portão de entrada do colégio. Naquele momento, se deram conta de que estava no horário de entrada e o portão estava sendo fechado. Correram em direção ao portão e não houve concessão, por parte do inspetor de alunos. Ele estava fechando o cadeado, sorrindo maquiavelicamente, com cara de deboche e nem se quer deu ouvidos aos alunos, que tiveram de retornar às suas casas. A sensação foi horrível para eles, porque teriam que justificar aos pais, o retorno para casa. Dito e feito, como se dizia. Ao chegar em casa, Zéfiro foi surpreendido pelo pai, que lhe perguntou – Porque você está em casa nesse horário? Naquele frio, foi como mais um balde de água gelada jogado em sua cabeça. Meio que aturdido respondeu – Aquele irresponsável do inspetor não me deixou entrar. Ouviu de volta – Irresponsável é você que não chegou no horário.
Observação 2 – Foi muito bom conversar com os colegas, sim, mas cumpra seu compromisso, não só de horário. Não deixe que as pessoas esperem por você, você é que deve esperá-las. Responsabilidade e respeito.
Vida que segue. Zéfiro foi para São Paulo, para continuar os estudos e trabalhar. Ele nunca havia ido à São Paulo. Ficou deslumbrado com a imensidão da cidade, que aprendeu a conhecer, trabalhando como office boy, na Enciclopédia Barsa. O que ele aprendeu com o pai e a mãe dele, sobre caráter, responsabilidade e respeito pelas pessoas e também com o que aprendeu com suas experiências, foi muito bom como base de sua nova vida, na cidade grande.
Para os colegas de trabalho e para as secretárias, ele parecia um azougue. Ágil, prestativo e muito correto. O que lhe rendeu o apelido de formiga atômica. Sim, ele terminava o trabalho muito antes dos demais e estava sempre à disposição. Recebeu, claro, o reconhecimento daqueles que o cercavam.
Naquele momento, o mundo para ele era muito, mas muito maior do que ele entendia como tal, quando residia na cidade de 13.500 habitantes.
Ele não tinha outra alternativa, ele tinha mesmo que dar certo ou dar certo, caso contrário retornaria para sua cidade de origem. Independente da saudade torturante da família e dos amigos, havia nele uma força de vontade muito grande em querer dar certo.
Pensou em fazer um curso técnico, para que pudesse continuar se desenvolvendo e ter um emprego melhor. Não havia empreendedorismo na época, tinha mesmo que pensar em emprego. Buscou um curso próximo à sua residência, no bairro da Lapa. Viu no jornal do bairro uma propaganda de um curso de agrimensura. Ele ficou muito chateado, porque não sabia o que era aquilo. Mesmo assim, foi ao colégio, onde lhe explicaram o significado e as possibilidades profissionais posteriores. Iniciou o curso e logo depois foi contratado em uma empresa, como calculista de topografia. Ele era ruim de matemática, mas teve de encarar a trigonometria e estudar muito. Trabalhou nessa profissão por 6 anos e 4 meses.
Observação 3 – Seriedade, determinação, resistência, vontade e muito trabalho, superam qualquer obstáculo. Como ainda estava na fase de subsistência, não deu, inicialmente, para ele escolher outra área ou profissão, de que realmente gostasse e se identificasse.
Pensando em fazer faculdade, Zéfiro entrou no cursinho Equipe Vestibulares. Foi em 1972, ano esse de seu ponto de virada, de tomada de consciência sobre a vida. Naquele momento da história, pós golpe militar, onde havia ainda muita repressão, o Equipe era um oásis para o desenvolvimento da cultura e do saber.
Zéfiro estudou muito e enfrentou seus medos, seus paradigmas, quase que dogmáticos, mas seguiu em frente, assistindo peças de teatro, lendo muitos livros, revistas semanais e jornais.
Pode-se dizer que ele estava muito antenado e se desenvolvendo culturalmente. Entrou na PUC, em Administração de Empresas. Como não gostava de exatas, fez uma reopção de curso, no final do primeiro ano básico, escolhendo Pedagogia, influenciado pelo boom da década de 70, que era a fase do treinamento e desenvolvimento de recursos humanos nas empresas, primeiramente, nas multinacionais.
Em janeiro de 76, no final do curso de inglês do Yásigy, passou 30 dias em Oxford, Inglaterra para aperfeiçoamento do idioma, tendo residido com uma família inglesa. Essa conquista aconteceu apenas 8 anos após sua vinda para são Paulo.
Ele nunca havia pensado em trabalhar em escola, mas com educação de adultos. Faz 41 anos que ele está na área de recursos humanos, tendo trabalhado por 20 anos em empresas nacionais e multinacionais e chegado à posição de gerente corporativo de RH.
Há 20 anos, já como empreendedor, partiu para a carreira solo, montando seu escritório de Hunting – Recrutamento e Seleção de Executivos. Nos últimos 10 anos, se desenvolveu como Coach e tem trabalhado em processos de Coaching Executivo. Tem atuado também como Colunista e Professor em uma escola de negócios, em Campinas.
Observação 4 – Acreditar na possibilidade de transformação da vida, errar, poder decidir qual estudo e carreira a seguir, cercar-se de amigos verdadeiros e enxergar as inúmeras possibilidades, porque não há limites para o ser humano. Viajar para conhecer outras culturas, aprender sempre, em qualquer situação seja ela ruim, satisfatória ou genial. Ler muito sobre diferentes assuntos e não só sobre os de sua área de interesse. Compartilhar o que sabe e agradecer aos amigos e à vida pelos erros, sucessos e momentos de felicidade.
Hoje, com 67 anos ele diz que ainda há muito para viver !