Desenvolvimento Humano
22 de outubro, 2019
O BELO DA VIDA
Tocado que fui pelo artigo do El País, de 02/06/19, uma entrevista com o Paleantropólogo Juan Luís Arsuaga, intitulada “A vida não pode ser trabalhar a semana inteira e ir ao supermercado no sábado”, me pus a refletir.
A busca do Juan Arsuaga continua sendo para entender o sentido da vida. Sentido esse que não existe e precisamos dar, para que não enlouqueçamos. Na verdade, ou damos um sentido para nossas vidas ou alguém ou o próprio sistema cultural nos irá impingir um.
O que acontece normalmente é que quando não o encontramos, nós vamos buscar um sentido nas religiões, entidades a quem terceirizamos nossos contatos com o Divino.
Filosoficamente o homem se questiona há muito tempo, quem é? De onde veio? O que o criou? O que faz aqui?
As respostas à essas questões poderiam nos aquietar, mas não é o que acontece, porque não as temos. Dessa forma o sentido que damos à vida, parece sempre uma justificativa, do porquê fizemos, fazemos e faremos dela, para ficar bonitinho e de certa forma, nos tranquilizar.
Concordo plenamente com o Juan Arsuaga, de que não é só para trabalhar e consumir, que estamos aqui e, como ele diz – “seria uma merda”. Há um algo mais, que acabamos por não valorizar, que é a cultura com suas músicas, histórias e poesias, o lazer, a natureza, a beleza das coisas, o amor…
Quando passamos a entender melhor a vida, podemos “acordar” e perceber que no ato de viver, também produzimos cultura e podemos, sem dúvida, sermos protagonistas de nossas vidas. Isso poderá dar um certo alívio à existência, mesmo que não consigamos obter todas as respostas.
Considerando a visão do filósofo Luiz Felipe Pondé, no que se refere ao sentido da vida, ele nos leva a desconfiar de tudo, até da própria existência. Diz ele que vivemos em um mundo vazio, onde além de estar bem, em alguma situação, devemos parecer, para mostrar. Uma existência fake, onde o sentido da vida, nada mais é do que aplacar a angústia de viver.
Analisando o momento atual, estamos convivendo com a tremenda pressão de termos que estar o tempo todo nos atualizando, para acompanhar o volume e a velocidade das inovações e transformações. E, se não o fizermos, ficaremos a reboque, na vida.
Sinto que é preciso respeitar o momento que cada um está vivendo, para que não se cobre de todos, essa atualização, na mesma proporção. Ela poderá acontecer em maior ou menor grau, conforme o estágio de vida.
Ainda não paramos para pensar no efeito que isto causa em nossa saúde mental e física e seus reflexos em nossas relações, mesmo considerando que precisamos fazê-lo.
O importante, a meu ver, é a busca pelo equilíbrio, que não é fácil, mas possível. Devemos iniciar sempre fazendo escolhas responsáveis, entre todas as atividades que temos que executar. Precisamos ter clareza de que ao optar por alguma coisa, deixaremos de fazer outra ou outras e assim segue a vida.
Acredito muito que quando fazemos escolhas responsáveis, não haverá culpa a ser carregada, preservando assim nossa saúde.
O melhor será quando pudermos trabalhar, aprender, produzir, nos relacionar e nos deleitar com a vida.
Viver mecanicamente, só para as máquinas e robôs.