Conto

04 de dezembro, 2019

VIAGEM AO FUTURO

Meu amigo Zilbert e eu estávamos em São Francisco – USA em uma viagem longa de estudos e férias. Iniciamos os estudos em 2015 e era para terminarmos no final de 2017. Cursávamos Mestrado em Educação na Universidade Estadual de São Francisco. O meu interesse naquele momento era entender como poderíamos atingir um alto nível educacional em pouco tempo. Sendo mais claro, tomamos como base o período da alfabetização à formação universitária, visando contrapor o modelo tradicional do processo de ensino-aprendizagem.

Estávamos bebendo um café típico americano na área externa da Starbucks e, entre um gole e outro, olhávamos a paisagem em volta. Zilbert me disse repentinamente: Yago, acho que você está indo longe demais com essa ideia de ir além do conhecido. Por que você não se concentra simplesmente na melhoria do processo de educação? Nós já tivemos John Dewey, no final do século XIX ao XX, Anísio Teixeira e Paulo Freire no século XX e agora, no século XXI, estamos retomando esses estudos, experiências e práticas educacionais que já estão sendo implantadas em diversas escolas no Brasil e no mundo.

Yago – Zilbert, veja, eu vou ainda mais longe do que você pensa. Eu tenho muita vontade de implantar um chip na minha cabeça e ir longe, mas muito longe mesmo. Zilbert – É Yago, você está mesmo em outra vibe, só peço que se cuide. Tudo está em evolução, mas implantar chip no cérebro é demais para mim.

Após o primeiro semestre de estudos eu já estava bem enturmado. Conheci a Nancy, uma garota linda e extremamente inteligente que, para mim, estava muito mais avançada do que estávamos na época. Além de excelente nos estudos, acabava dando um banho de conhecimento e experiência em nossa turma. Ela conhecia tudo sobre educação, desenvolvimento humano, computação e inteligência artificial. Após várias conversas com ela, e já me sentindo mais à vontade, contei para ela sobre aquela minha vontade de implantar um chip no cérebro e potencializar meus conhecimentos.

Nancy me disse de pronto – Eu sei como você pode fazer isso! Yago – Eu quase caí do banco em que estávamos. Claro, levei um susto, porque eu não pensei que poderia conseguir o meu intento tão rápido. Nancy – amanhã iremos ao laboratório do Dr. Jack. Yago – O Dr. Jack Sampson, neurocientista? Sim, ele mesmo.

Na manhã seguinte, chegamos ao laboratório e ela me apresentou ao Dr. Jack Sampson. Conversamos por uma hora, onde explanei minha vontade e ele me explicou que havia uma possibilidade de acontecer. A orientação era, para primeiro visitarmos o laboratório e que depois eu decidisse se colocaria ou não o chip.

O laboratório era impecável, as instalações, equipamentos, salas de pesquisa e de cirurgias, cientistas diversos, neurocientistas, neurologistas, especialistas em computação, robotização e inteligência artificial. Fiquei perplexo.

Após a visita, conversamos sobre a possibilidade do implante. Ele me disse que o laboratório já estava em fase adiantada para a execução desse procedimento, que havia conseguido a autorização para os testes em humanos e que a decisão só dependia de mim.

Eu e a Nancy saímos do laboratório simplesmente mudos. Caminhamos por 15 minutos olhando os pássaros, sem fixar muito no que estavam fazendo. Aí eu disse: – Amanhã confirmarei a minha participação no procedimento de implantação do chip. Ela sorriu para mim e fomos tomar uma cerveja.

No dia 25 de outubro de 2016, cheguei ao laboratório e fui preparado para a cirurgia do implante. Fui informado de como seriam os procedimentos e que eu voltaria da cirurgia tranquilamente.

Ainda sem acordar, eu tinha a sensação que estava viajando ao espaço, em uma nave maravilhosa. Eu estava com todo o pessoal da equipe do Dr. Jack. Percebi que já havíamos ultrapassado a Lua e estávamos indo em direção à Marte. A partir daí a velocidade era tão grande, que não conseguia me situar. Eles me informaram que na verdade, só passamos por Marte e saímos da via Láctea. Eu perguntava à equipe onde iríamos e eles não respondiam. A viagem estava maravilhosa, que sensação boa. Nunca havia sentido algo assim na minha vida. Fui informado de que já estávamos na galáxia de Andrômeda, precisamente no planeta Zetha, na cidade de EducAI. Fomos recepcionados pelos Sapiens Digitais l. Um pouco depois, ficamos sabendo que eles haviam sido evoluídos pela Inteligência Artificial e não pela seleção natural. Todos ficamos boquiabertos.

Levei um grande susto, a nossa comunicação se dava de forma muito natural. Falávamos em português e eles respondiam também em português. Entre eles, se comunicavam pouco. Quando o faziam, não entendíamos nada. Descobrimos que falavam pouco porque a maior parte da comunicação, entre eles, se dava de cérebro para cérebro. Eles haviam desenvolvido um processo mental de tradução simultânea, que servia para eles e para nós, os visitantes.

EducAI era uma cidade totalmente futurística. Tudo funcionava sem muita ação dos Sapiens I, seus habitantes. Por exemplo, se queríamos nos locomover, pensávamos em um veículo de transporte. Em 5 minutos aparecia o veículo, que não só andava nas ruas como também voava em alguns trechos, sem nenhum condutor. Nós simplesmente entrávamos no veículo e dizíamos o destino, a porta se fechava e ele se locomovia. Chegando no que seria o centro de EducAI, sentimos sede e decidimos tomar um suco. O local não se parecia com um bar e sim com uma farmácia. Tinha várias mesas e cadeiras. Pensamos em pedir um suco e imediatamente recebemos em nossa mesa algumas pílulas de suco de estrelas. O sabor era muito bom e tivemos a sede saciada. Tudo era muito estranho. Começamos a conversar sobre a cidade. Disse ao Sapiens I, de nome Stelt, que era nosso cicerone, que eu gostaria de conhecer uma escola ou algo parecido com ela. Ele me disse, será agora. Eu me senti como que abduzido. Um tremor e, repentinamente estávamos em um EducAI Center. Minha reação foi de espanto. Nossa, o que aconteceu? Stelt, sorrindo, me disse, fomos tele transportados. Isso também já existe por aqui.

Entramos no recinto. Era uma grande área, de alta tecnologia, dividida em alas, onde cabiam 100 Sapiens I, cada uma. Todos tinham a seu dispor um monitor ativo, conectado ao grande computador central, extremamente potente e poderiam, a qualquer momento que sentissem vontade, interagir com os outros colegas que lá estavam. Poderiam também fazer qualquer atividade que quisessem.

Não havia divisão por nível de aluno. Todos, do maternal ao que poderíamos chamar de universitário, estavam lá. Claro que no maternal ainda haviam tutores, que cuidavam e iniciavam o processo de Educação. A partir daí os mais velhos apoiavam os demais nova geração na interação com os estudos e experiências. Para alavancar o conhecimento era primordial a solução de problemas complexos. Os próprios alunos apresentavam os problemas ou recebiam em suas telas dicas para reflexão. Absolutamente nada era memorizado. Os computadores armazenavam as informações. O conhecimento atingido e resultado da solução de um problema, seja de um ou mais estudantes, era disponibilizado em rede, assim que concluído.

Solicitei ao Stelt, para conversar com um dos alunos. Ele me apresentou um estudante que estava bem avançado nos estudos. Ele se chamava Silcon. Perguntei o que ele sabia sobre o nosso planeta Terra. Em 15 minutos, utilizando uma tela holográfica de altíssima definição em 3D, ele resumiu da formação de nosso planeta a nossa evolução e como estávamos agora. Me sorriu dizendo, logo vocês evoluirão. As próximas duas décadas irão transformar o seu planeta. Não se assustem, muito mais virá por aí… Ah, se preparem!

Comecei a acordar da anestesia e lá estava toda a equipe que havia participado da cirurgia. Eu estava muito assustado. Eles haviam percebido o meu estado pelos meus batimentos cardíacos, já que estava totalmente conectado ao poderoso computador. Eles me acalmaram e fui me adaptando àquele ambiente. Me perguntaram como eu me sentia e porque eu havia sumido do radar deles por um tempo. Estava doido para falar da minha experiência. Solicitei uma tela holográfica, ainda rudimentar, que havia no laboratório e resumidamente, contei o que havia acontecido. Todos ficaram em êxtase. Por quê? Eu havia transposto o limite que eles haviam determinado pelo computador. Eu havia ido muito além. Fui crivado de perguntas por aproximadamente 3 horas.

Mesmo cansado, no final comecei a rir…

Agora já me comunicava em vários idiomas, sem esforço algum. O meu conhecimento sobre tudo havia aumentado exponencialmente. Tinha uma visão clara do presente e do futuro que estava muito perto. Sentia vontade de resolver todos os problemas do mundo, mas sabia que não era viável. Em uma madrugada fui acordado por um contato do Stelt. Ele falava diretamente ao meu cérebro. Disse para eu ir devagar, porque as pessoas, aqui na Terra, ainda não estavam preparadas para entender aquela evolução. Disse que me apoiaria sempre, com qualquer coisa que eu precisasse. Explicou-me que para me comunicar com ele, eu deveria me concentrar no nome Stelt e passar a informação pelo pensamento.

Os cientistas não queriam que eu saísse do laboratório porque iriam continuar o acompanhamento de minha evolução. Passei 3 meses no laboratório e recebi permissão para voltar aos estudos.

Na universidade procurei pela Nancy e pelo Zilbert e fomos conversar. Solicitei que não falassem sobre o meu implante. Eles me disseram que haviam mantido em sigilo e que deram uma desculpa de que um parente meu estava com um grande problema de saúde, no Brasil. Após algum tempo de conversa, os dois foram diretos – parece que você está em outro mundo. Você está desenvolto e chega a conclusões tão rápido que nós não conseguimos acompanhar. Vamos para a próxima aula, lá queremos ver o que você fará. Na classe, após uma determinada exposição do professor, ele solicitou um trabalho em grupo para resolver um problema de extensão do ensino e do conhecimento para todo o nosso planeta.

No meu grupo de 7 pessoas pediram para eu falar o que pensava sobre o assunto. Em 10 minutos eu falei resumidamente sobre a proposta solicitada. Incluía um novo modelo de educação, mais envolvente, que desenvolvesse a capacidade analítica, habilidades técnicas e competências comportamentais necessárias para o desenvolvimento total das pessoas como seres sociais importantes, uma educação inclusiva, que fosse em busca da melhoria de vida de todos na sociedade.

Tecnicamente falei sobre a possibilidade de fazer a conexão de toda a humanidade através de uma internet interplanetária. O primeiro passo seria o de lançamento de satélites para propiciar a internet para todo o mundo. Disse que estava me baseando nos estudos e no desejo do Sr. Richard Branson, da Virgin Galactic, o pessoal do Google e o Elon Musk. Eles querem lançar satélites para difundir a internet para todo o mundo. Isso deverá ser colocado em prática rapidamente. Posteriormente, poderíamos partir para um processo de difusão interplanetária do conhecimento, já que iremos primeiramente, colonizar Marte.

Aqui na Terra, desenvolveremos diversos centros de estudos, federais, estaduais e municipais, conectados, não só com o satélite de internet, mas entre si, para difusão do conhecimento e da cultura. Não haverá mais disciplina definida. Serão lançados pelos tutores ou pelos alunos, problemas locais para serem resolvidos e problemas gerais, que envolvam os interesses de cada grupo. Os tutores orientarão os estudantes em seus trabalhos para que façam a correlação do que estão aprendendo com os outros estudos e soluções encontradas. Tudo isso será postado na rede de difusão. Eu disse a eles, isso é o que ajudarei a implantar no meu país.

Os outros componentes do grupo apenas fizeram uns questionamentos e disseram, Yago, o trabalho já está pronto e você irá apresentar.

O professor Lancaster, após minha explanação, pediu para conversar comigo. Fui à sala dele após a aula. Ele me disse que gostaria de saber o que estava acontecendo comigo, tal minha objetividade e clareza. Eu lhe contei sobre o meu implante, ele ficou pasmo. Disse que já ouvira falar sobre essa possibilidade, mas que estava assustado com essa realidade. Perguntou-me se poderia marcar uma reunião com o corpo diretivo e o corpo docente da universidade, para que eu falasse sobre o ocorrido, antes de abrir a informação para os demais alunos. Concordei com a ideia e fizemos a tal reunião. Enquanto eu falava, ninguém interferiu. Quando terminei, fui bombardeado com perguntas sobre minha supremacia e convivência com os ditos alunos normais. Se era ético da minha parte me manter como um igual, não o sendo. Se a universidade poderia concordar com essa situação e por aí foi…

Solicitaram para eu aguardar dois dias, porque precisavam analisar a minha situação e que até então não informasse os estudantes. No final do segundo dia pediram minha presença na diretoria. Disseram que eu estava temporariamente afastado da universidade, até que pudessem ter uma decisão definitiva.

Como estava fora, decidi espalhar a notícia pelo campus. Foi uma coisa louca. Todos queriam saber da novidade e se mostravam maravilhados com a experiência. Muitos disseram que também queriam fazer o implante. Alguns disseram que pela diferença que eu apresentava, um ser chipado, não poderia participar em pé de igualdade com o restante dos estudantes. Outros, pelo contrário, disseram que seria de grande valia que eu continuasse na universidade, para instigar os outros alunos em seus desenvolvimentos.

Como a situação estava crítica, decidi atender o pedido da diretoria e voltar ao Brasil.

Encontrei-me com Zilbert na Universidade e ele solicitou para eu ter cuidado e que não deixasse de retornar à Califórnia assim que eu pudesse. Saí apressadamente para encontrar a Nancy. Eu estava ansioso. Ela me recebeu, na casa dela, com um grande sorriso. Entramos e começamos a conversar. Entre um gole e outro de vinho, eu me abri dizendo que gostava muito dela. Sem pestanejar, ela se aproximou e me beijou. Abraçamo-nos e ela revelou que também estava gostando de mim. Eu congelei na hora. Ficou tudo confuso na minha cabeça, mas eu já havia decidido pela volta ao Brasil. Ela disse que entendia e respeitava a minha decisão e que esperaria por mim. Disse que quando eu voltasse iria fazer uma viagem galáctica comigo.

Chegando ao Brasil, num primeiro momento, não falei nada para ninguém. Tentava parecer normal, mas não dava. Eu extrapolava mesmo. Tive um sentimento de que a maior parte das pessoas estava muito atrasada. Me viam como um extraterrestre. Não aguentei e contei a história do chip. Foi um espanto geral. Continuei tocando a minha vida e colaborando com os estudiosos de ponta na implantação do novo modelo de educação.

Fui assediado pela mídia e participei de muitos programas de TV. Decidi parar com essa exposição após algum tempo de difusão da novidade, que era o meu propósito. Estava também me sentindo um ratinho de laboratório.

É uma coisa louca mesmo. Agora quando chegam com qualquer problema, seja de que nível for, eu processo buscando a solução e o resultado vem imediatamente.

Sinto que isso poderia ser feito em todas as pessoas, possibilitando um grande e rápido desenvolvimento delas. Seríamos uma sociedade mais igualitária. O meu medo é de que algum espertalhão de plantão queira dominar o mundo utilizando a chipagem como diferencial de uma casta. Meu desejo é que isso não aconteça. Para tanto, se tornarmos o procedimento de baixo custo ou até gratuito, poderemos realizar rapidamente o processo de implante, para que não haja tempo para vigarices.

Estou me sentindo meio que na berlinda, mas pensando que não dá mais para ser como estamos.

Eu quero mais, não dá para negar. Sim, eu quero mais para ajudar a resolver diversos problemas de nosso país.
Minha luta é por um país para todos e não só para uns poucos.

Como próximo passo e já tendo sido convidado pelo laboratório do Dr. Jack Sampson, me candidatei para fazer um download e um upload do meu cérebro, que estará conectado ao poderoso computador do laboratório.

Acontecerá em breve, espero que seja em 2020.

É um caminho sem volta.

Eu, Yago, irei ajudar transformar a educação de nosso país, do mundo e muito mais.

Quem vem comigo?

Essa é a base para a grande transformação da vida, que virá.

por Fausto Ferreira