Desenvolvimento Humano

21 de agosto, 2019

UMA VIDA COM PROPÓSITO

Jairo, por falar em idade, eu fui a uma festa de aniversário de 90 anos, da mãe de um amigo, na semana passada. Que festa linda, cara. O salão impressionava pela disposição das mesas, arranjos florais em cada uma delas, as toalhas em tom marsala. Ah, a mesa central destacava-se porque estava colocada em frente à entrada do salão. Muito bem montada, com dois arranjos grandes de flores nas duas extremidades e três bolos dispostos no centro e pratos com diferentes docinhos à volta. Tudo de muito bom gosto. Isso sem falar na elegância dos garçons e na organização da festa.

É mesmo Rute? Conta aí então. Fiquei curioso só com essa descrição.

Pois é, fiquei muito impressionada. Além de linda, contou com a presença dos seis filhos, treze netos, treze bisnetos, demais familiares e dos amigos mais próximos. Acho que chegou a ter aproximadamente 150 pessoas.

A aniversariante, Dona Mimita, irradiava felicidade. Sorriso largo no rosto, bem-disposta, cumprimentou todos os convidados, individualmente, na medida em que chegavam. Algo mais incrível aconteceu, quando o irmão dela, Aloísio, 82 anos, chegou de Florianópolis, com a esposa, filhos, genro e netos. Que abraço afetuoso! Emocionou a todos. Considerando a família de origem dela, eram 11 irmãos e hoje, vivos, apenas os dois. Na verdade, foi uma grande alegria para toda a família, porque muitos não o encontravam há muito tempo.

Jairo, preciso te contar dos discursos. Foram quatro ao todo e cada um mais tocante que os outros. O primeiro, foi da Marluce, afilhada e sobrinha mais velha de Dona Mimita, hoje com 81 anos. Depois, de uma bisneta e uma neta e finalmente o de dona Mimita.

A Marluce enalteceu a história da aniversariante, ressaltando as qualidades da tia, lembrando-se do convívio que tiveram há muito tempo, o exemplo dela como mulher, educadora, filha, irmã, esposa, mãe, avó e bisavó. Lembrou e reforçou a capacidade dela de sempre ter tido uma “visão positiva, confiança e a capacidade de buscar alegria e felicidade na vida”.

Ela finalizou dizendo em verso –
“Ser feliz não é ter uma vida perfeita…
Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância.
Usar perdas para refinar a paciência.
Usar as falhas para esculpir a serenidade.
Usar os obstáculos para abrir a janela da inteligência.”

Na sequência a bisneta Maria Clara, de 9 anos, que havia escrito um bilhete discurso para a Bisa. Agradeceu pela geração de pessoas maravilhosas, criadas pela Bisa, por ela ter sido guerreira na vida e por ter sido uma ótima professora e, nesse caso, que ouviu falar sobre isso.

A neta Maria Fernanda, declarou seu amor pela avó dizendo-se muito honrada e feliz por ser neta de uma avó, que construiu uma família maravilhosa.

A última a falar foi a Dona Mimita, que acabou revelando seu propósito de vida e de sua profissão de professora, que foi de servir de exemplo e esteio para a família e para seus alunos, para que assim pudessem também cumprir suas missões e que aproveitou a longevidade para continuar aprendendo, dando graças a Deus por isto. Ela demonstrou lucidez ao se referir à forma como viveu até aqui e se desculpou pelos erros cometidos.

Que comovente!

Veja que narrativa linda de um propósito que faz todo sentido para a vida dela.

Então Jairo, vale ou não a pena viver dessa forma?

Pois é Rute, a vida é linda quando vivemos com a certeza da impermanência, que nos garante usufruir dos momentos de felicidade, dos prazeres e passar pelas agruras dessa jornada.

Noventa anos de história de vida, com saúde e lucidez, ainda não é para qualquer um e, dessa forma, no caso de dona Mimita, um exemplo para todos.

por Fausto Ferreira